Para fazer isso o leitor não pode e não deve renunciar a uma função ativa no
próprio espaço histórico e existencial: Não existem dúvidas que, quando lemos
as palavras de um texto literário, as preenchemos com nossas experiências.
No momento em que leio, sou como suspenso em outro lugar. Podemos até sentir-nos imersos, de olhos abertos, num sonho mais verdadeiro e mais vivo que a realidade ao nosso redor.
E, todavia, esse espaço sou eu a construí-lo, para animá-lo o reinvento de contínuo, participando do seu movimento no espelho ativo da imaginação.
Enquanto percorro as frases de um livro, mesmo lendo em silêncio, invisto a minha voz, ou seja alguma coisa que vem do profundo da intimidade corpórea, até mesmo, como rosto, expressão inviolável da minha singularidade e diversidade: e no momento em que se transforma quase duplicando-se para colocar-se à prova da palavra do outro, eis que a voz pode descobrir um novo seu aspecto, uma força que desconhecia” (E. Raimondi – Uma ética do leitor).
Isso é fruto daquela particular “sintonia” que se estabelece entre autor e leitor através do texto literário: “ainda hoje acredito que o amor pela leitura surja da descoberta de uma singular coincidência entre a página que se está lendo e o estado de alma de quem lê naquele momento particular” (Corrado Augias)
Quem lê, portanto, faz viver um texto, realiza-o, se coloca em comunicação com o outro, com uma diversidade. Na leitura paradoxalmente atividade e passividade coincidem e “o livro verdadeiro não é aquele que se lê, mas aquele que nos lê” (W.H.Auden).
Tudo isso é o fruto da relação que se estabelece entre o leitor e o autor através do texto literário: “Na leitura eficaz se cria uma relação forte entre leitor e livro, na qual o leitor não domina as páginas, mas se move ao interno e, enquanto lê, se lê, isto é, lê a si mesmo” (A. Spadaro – Para que “serve” a literatura?).
Se isso não acontece, se a passividade do leitor não coincide paradoxalmente com a sua atividade, se substituímos passivamente a vida com a leitura, então “ler um livro é perigoso”: “Se nos aproximamos de um texto dispensando a verdade, e não colocamos em jogo a nossa personalidade, mas ficamos ali como simples receptores de uma mensagem, então ler um livro é perigoso” (A. Spadaro – Habitar na possibilidade).
Livro - "Como farpas de luz" - caminho linguístico literário na história de Chiara Lubich ano de 1949.
Pedro Arfo
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