O
demônio do ativismo não significa ser muito ativo ou muito trabalhador, ou ter
muitas ocupações diversas. Ser ativo, não é ser “ativista” como tentação.
O
ativismo se produz na medida em que aumenta a distância e a incoerência entre o
que faz e diz, entre o que se é e o que se vive.
É
verdade que na condição humana aceitamos como normal a inadequação entre o
“ser” e o “agir” mas, no caso do ativismo, ela é acentuada e tende a crescer,
não a diminuir, como seria o ideal.
O
ativismo tem muitas expressões. Uma delas é a falta de renovação na vida
pessoal. Neste caso, normalmente a oração é insuficiente e deficiente. Não há
momentos prolongados de silêncio e retiro. Não se cultiva o estudo, apenas se
lê.
Nem
sequer se deixa tempo para descansar o suficiente e repor-se. Paralelamente, há
sobrecarga de trabalho, de atividades múltiplas, e a agenda de compromissos
costuma estar cheia. O ativista dá a impressão de que é necessário, como estilo
de vida, um grande volume de trabalho externo.
Daí a
criação de um círculo vicioso, cuja origem – excessiva atividade ou negligência
em renovar-se – não é fácil identificar: por um lado está o aumento de atividades que
faz cada vez mais difícil tomar as medidas de renovação interior, e que são as que conduzem ao crescimento no
“ser”; por outro lado a incapacidade
(que tende a crescer) de renovar-se tende a compensar-se e disfarçar-se com a
entrega a um ativismo desenfreado. Em última análise, o ativismo é a desculpa
do “escapismo”.
O ativismo também se exprime numa das distorções mais radicais: colocar toda a alma nos meios de ação, no que se organiza e se faz, esquecendo-se de Deus, quem é, afinal de contas, por quem se faz, se organiza e se trabalha.
Com isso, se transforma num profissional que multiplica iniciativas, habitualmente boas, não parando para discernir, para perguntar a Deus se são necessárias ou oportunas ou se é preciso fazê-las agora e desta maneira. Assim, os meios acabam obscurecendo seu sentido e seu fim.
Outra expressão do demônio do ativismo é não trabalhar ao ritmo de Deus, substituindo-o pelo próprio ritmo. Isso ocorre quando se vai mais rápido ou mais lento do que Deus. Normalmente, o ativista, pelo menos num primeiro momento, costuma pecar por aceleração.
Em todo caso, dado o aparente fracasso de seu projeto, o ativista, uma vez tendo experimentado o demônio da impaciência, facilmente cai na tentação do desânimo.
“Aqui, com essa gente, não se pode fazer nada”. Pois, a impaciência e o desânimo são gêmeos. Ambos são filhos do orgulho, da autossuficiência, do esquecer que “tanto o que planta como o que rega não são nada, e sim Deus que faz crescer” (1 Cor 3,7).
Trecho
do artigo de Segundo Galileia
Pedro
Arfo
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