O Papa Bento XVI, neste último domingo de Advento, 18 de dezembro, deixou nesta manhã o Vaticano para realizar uma visita ao novo Complexo da Penitenciária de Rebibbia, na periferia de Roma. Na estrutura de detenção, o encontro com os encarcerados teve lugar na Igreja do Pai Nosso. Nesta ocasião, o Papa respondeu algumas perguntas dos detentos e na conclusão abençoou uma árvore plantada diante da igreja como recordação da visita. Cerca de 300 pessoas estiveram presentes no encontro.
Um evento muito esperado pelos detentos e pelos funcionários do cárcere, levando em consideração que a vida dentro dos institutos penais na Itália piorou sensivelmente nos últimos anos por causa da superlotação, da falta de funcionários, e da excessiva presença de estrangeiros e de pessoas provenientes das camadas mais baixas da sociedade, e do corte de verbas destinadas à gestão das estruturas penitenciárias.
No seu discurso aos presos do Papa antes de tudo falou da sua alegria e emoção em visitar os detentos, visita que se realiza a poucos dias do Natal.
“Estava na prisão e vieste me visitar” (Mt 25,36). As palavras do juízo final, narradas pelo evangelista Mateus, exprimem em plenitude o sentido da minha visita de hoje entre vocês. Portanto, onde se encontra um faminto, um estrangeiro, um doente, um encarcerado, ali se encontra Cristo mesmo que espera a nossa visita e a nossa ajuda. Essa é a razão principal que me deixa feliz em estar aqui, para rezar, dialogar e escutar”.
O próprio Filho de Deus, o Senhor Jesus – continuou o Papa – fez a experiência do cárcere, foi submetido a um julgamento diante de um tribunal e padeceu a mais feroz condenação, a pena de morte. Recordando a sua recente viagem ao Benin, durante a qual assinou a Exortação Apostólica Pós-sinodal Africae munus (O compromisso da África) o Santo Padre destacou um trecho do documento no qual reafirma a atenção da Igreja pela justiça nos Estados:
“É preciso também banir os casos de erro da justiça e os maus tratos aos prisioneiros, as numerosas ocasiões de não aplicação da lei, que correspondem a uma violação dos direitos humanos, e as detenções que só tardiamente ou nunca chegam a um processo. A Igreja reconhece a sua missão profética junto de quantos acabam envolvidos pela criminalidade, sabendo da sua necessidade de reconciliação, de justiça e de paz . Os presos são pessoas humanas que, apesar do seu crime, merecem ser tratadas com respeito e dignidade; precisam da nossa solicitude”. (n.83)
A justiça humana e a divina – continuou Bento XVI – são muito diversas. Certamente, os homens não são capazes de aplicar a justiça divina, mas devem pelo menos olhar para ela, procurar colher o espírito profundo que a anima, para que ilumine também a justiça humana, para evitar – como ocorre certas vezes – que o preso se torne um excluído. Deus, de fato, é Aquele que proclama a justiça com força, mas que, ao mesmo tempo, cura as feridas com o bálsamo da misericórdia.
Justiça e misericórdia, justiça e caridade, preceitos da doutrina social da Igreja, são duas realidades diferentes somente para nós homens - disse ainda o Papa -, que distinguimos atentamente um ato justo de um ato de amor.
“Justo para nós é “o que é devido ao outro”, enquanto misericordioso é o que é doado por bondade. E uma coisa parece excluir a outra. Mas para Deus não é assim: n’Ele justiça e caridade coincidem; não há uma ação justa que não seja também ato de misericórdia e de perdão e, ao mesmo tempo, não existe uma ação misericórdiosa que não seja perfeitamente justa”.
Quão longe é a lógica de Deus da nossa! – sublinhou o Papa. E como é diferente do nosso modo o seu modo de agir! O Senhor nos convida a colher e observar o verdadeiro espírito da lei, para lhe dar pleno cumprimento no amor para aqueles que necessitam. “Pleno cumprimento da lei é o amor", escreve São Paulo: a nossa justiça será mais perfeita, se animada pelo amor a Deus e ao próximo.
O Papa destacou em seguida que o sistema de detenção gira em torno de dois pontos principais, ambos importantes: por um lado, proteger a sociedade contra eventuais ameaças, de outro reintegrar quem errou, sem pisotear a dignidade e excluí-lo da vida social. Ambos os aspectos têm a sua relevância e não devem criar um "abismo" entre a realidade na prisão e aquela pensada pela lei, que prevê como um elemento chave a função reeducadora da pena e o respeito dos direitos e da dignidade das pessoas. A vida humana pertence somente a Deus, que nos deu, e não é abandonada à mercê de ninguém, nem mesmo ao nosso livre arbítrio! Somos chamados a preservar a pérola preciosa da nossa vida e a dos outros.
O Papa sublinhou ainda que a superlotação e a degradação das prisões podem tornar ainda mais amarga a detenção: recebi várias cartas de presos que sublinham isso. É importante que as instituições promovam uma cuidadosa análise da situação da prisão hoje, verifiquem as estruturas, os recursos, o pessoal, de modo que os prisioneiros não cumpram jamais "uma dupla pena"; é importante promover um desenvolvimento do sistema carcerário, que respeitando a justiça, seja cada vez mais adequado às necessidades da pessoa humana, com a utilização também de penas não detentivas ou a modalidades diferentes de detenção.
O Papa conclui suas palavras recordando que celebramos o quarto domingo do tempo de Advento. O Natal do Senhor está próximo, e fez votos de que reacenda de esperança e de amor os corações. O Menino de Belém será feliz quando todos os homens retornarem a Deus com o coração renovado. “Vamos pedir-lhe no silêncio e na oração sermos todos liberados da prisão do pecado, da soberba e do orgulho; cada um tem necessidade de sair desta prisão interior para ser verdadeiramente livre do mal, das angústias e da morte. Somente aquele Menino deitado na manjedoura é capaz de doar a todos essa plena libertação!.
O Papa concluiu dizendo que a Igreja apoia e encoraja todos os esforços para garantir a todos uma vida digna e que está próxima a cada um deles, às suas famílias, aos seus filhos, aos seus jovens, aos seus anciãos e todos leva no coração diante de Deus.
Após pronunciar o seu discurso no novo Complexo da Penitenciária de Rebibbia, na periferia de Roma o Papa respondeu algumas perguntas dos presos. “Estou emocionado por essa amizade que sinto de todos vocês”: disse Bento XVI respondendo a Rocco, o primeiro encarcerado de Rebibbia que fez ao Papa a sua pergunta.
“Estou aqui para demonstrar a minha amizade, a minha visita é também um gesto público que recorda aos nossos concidadãos as dificuldades da prisão”; disse o Papa respondendo outra pergunta de um preso, acrescentando que tem esperança de que “o governo consiga fazer todo o possível para melhor a situação nas prisões”.
Rocco, Omar - prisioneiro estrangeiro negro -, Alberto, - romano e pai de uma menina de dois meses que gostaria de abraçar novamente sua filha -, Federico, que falou em nome dos presos que se encontram na enfermaria: são esses os presos de Rebibbia que fizeram perguntas a Bento XVI, que saudou pessoalmente cada um deles.
Respondendo a uma das perguntas o Papa disse que é verdade que muitos falam “mal e de modo feroz” dos presos, mas há também muita gente que olha “com amor” para a situação dos detentos. “Devemos suportar que alguns falem de modo feroz, alguns falam de modo feroz também contra o Papa, e todavia vamos para frente”.
“Recorde-se de mim oh Deus. Amém”: foi o final da oração feita por um preso na conclusão do encontro com o Papa. “Dá-me a paz interior, dá-me a consciência de valer alguma coisa, fique perto de mim. E concluiu o detento: “encurte as minhas noites de insônia”.
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